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Lesão do LCA associada a lesão meniscal e o tempo de retorno ao futebol

Dr. Guilherme Gracitelli – O assunto do momento é a lesão do jogador Neymar, após ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA) e do menisco durante o jogo do Brasil no dia 17/10/23. O rompimento de LCA no futebol ocorre principalmente quando o jogador fixa um pé no chão e roda o tronco para o lado oposto. O tronco e a coxa rodam internamente, enquanto o pé fixo no chão e a perna travada forçam o LCA até ele não suportar a força tensional.

Os riscos para tais lesões são variados, como anatomia, biomecânica, idade e histórico prévio de lesões, e outros que incluem aspectos ambientais, condições climáticas, carga de treinamento e tipo de chuteira.

A ruptura do LCA é a principal causa de cirurgias esportivas, e dependendo da intensidade da força de movimento outras estruturas podem ser danificadas, como o menisco no caso de Neymar.

Para jogadores de futebol profissional, lesões associadas à ruptura do LCA, como lesões meniscais, cartilaginosas ou ligamentos colaterais, podem resultar em um retorno tardio ao esporte em comparação com uma lesão isolada do LCA.(1)

Estudo recente (2023) mostrou que embora não existam diferenças significativas no estado de saúde clínico e autorrelatado, quase todos os parâmetros analisados resultaram em desempenho inferior nos jogadores tratados com LCA e reparo meniscal. Além disso, pacientes com LCA e reparo meniscal lateral relataram maior dor e medo de nova lesão. As habilidades de equilíbrio foram significativamente afetadas em jogadores submetidos a reparo meniscal em comparação com aqueles submetidos apenas à reconstrução do LCA. O desempenho biomecânico e o medo de nova lesão foram significativamente piores em jogadores de futebol com reparo meniscal associado.(2)

Assim, a ruptura do LCA representa uma lesão que ameaça a carreira de jogadores de futebol profissionais.(3,4) No entanto, as  técnicas modernas de reconstrução do LCA têm proporcionado excelentes resultados nesses atletas.(5)

Retorno ao esporte

Os critérios de retorno ao futebol após a reconstrução do LCA são uma das principais discussões entre cirurgiões de joelho, pois eles foram sendo modificados ao longo do tempo.

No passado, os atletas retomavam a prática esportiva em um intervalo mais curto, cerca de quatro a cinco meses, o que resultava em uma alta taxa de reincidência de lesão.

Com melhores técnicas cirúrgicas e de reabilitação, o retorno ficou cada vez mais precoce, mesmo com resultados longe do ideal: seis meses após a cirurgia, apenas 14% dos atletas cumpriam todos os critérios definidos para retorno ao futebol, mas para cada mês de atraso ao retorno, o risco de nova lesão foi reduzido em 50% até os nove meses de cirurgia.

Retardar o retorno passou a ser visto como ideal, com estudos recomendando a volta apenas após um ano ou mais. Mais do que o tempo, é importante ter atenção com cada uma das fases da reabilitação até o retorno esportivo completo. Atletas operados com a musculatura devidamente preparada e que passam por reabilitação de excelência podem estar prontos após 7 ou 8 meses.

Mas, em média, a recuperação dura de 9 a 12 meses após a cirurgia. Os critérios de retorno ao esporte incluem avaliação subjetiva do paciente, teste isocinético demonstrando diferença de força não superior a 10% de uma perna em relação à outra, relação de força quadríceps/isquiotibiais entre 50 e 70%, testes de salto unipodal e Y-test com menos de 10% de diferença entre os membros.

Em um estudo de 2022, jogadores de futebol profissionais conseguiram voltar a jogar em nível competitivo, porém aqueles com longa carreira tiveram alto percentual de reoperação no joelho contralateral.(4) Mesmo após uma boa recuperação, há risco de nova lesão, principalmente se houver retorno prematuro às atividades e reabilitação inadequada.

Entretanto, a reconstrução primária do LCA em jogadores profissionais produz altas taxas de retorno ao esporte (96%), com 90% no mesmo nível ou superior cerca de 10,5 meses após a cirurgia.(5)

Outra pesquisa analisou as diferenças nos resultados relatados pelos pacientes, força isocinética, capacidade pliométrica e de atender aos critérios de retorno dez meses após a reconstrução do LCA entre os que foram submetidos à meniscectomia, aqueles submetidos ao reparo meniscal e aqueles sem intervenção meniscal juntamente com a reconstrução do LCA.  Os resultados sugeriram que a cirurgia meniscal concomitante não tem efeitos significativos nos resultados relatados, nas métricas de força e salto.(6)

Os fatos mostram que apesar de ser possível uma nova contusão após a recuperação, Neymar tem grandes chances de voltar a atuar em alto rendimento porque a cirurgia do LCA tem elevada taxa de sucesso.

Referências

  1. Farinelli L, Csapo R, Meena A, et al. Concomitant Injuries Associated With ACL Rupture in Elite Professional Alpine Ski Racers and Soccer Players: A Comparative Study With Propensity Score Matching Analysis. Orthop J Sports Med. 2023;11(8):23259671231192127.
  2. Moretti L, Bortone I, Delmedico M, et al. Clinical, Biomechanical, and Self-reported Health Status After ACL Reconstruction With Meniscal Repair in Soccer Players: Results at Minimum 1-Year Follow-up. Orthop J Sports Med. 2023;11(8):23259671231177309.
  3. Farinelli L, Abermann E, Meena A, et al. Return to Play and Pattern of Injury After ACL Rupture in a Consecutive Series of Elite UEFA Soccer Players. Orthop J Sports Med. 2023 Mar 3;11(3):23259671231153629.
  4. Bonanzinga T, Grassi A, Altomare D, et al. High return to sport rate and few re-ruptures at long term in professional footballers after anterior cruciate ligament reconstruction with hamstrings. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc. 2022 Nov;30(11):3681-3688.
  5. Balendra G, Jones M, Borque KA, et al. Factors affecting return to play and graft re-rupture after primary ACL reconstruction in professional footballers. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc. 2022 Jul;30(7):2200-08.
  6. Byrne L, King E, Mc Fadden C, et al. The effect of meniscal pathology and management with ACL reconstruction on patient-reported outcomes, strength, and jump performance ten months post-surgery. Knee. 2021 Oct;32:72-9.
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